Mural na EMCM
Mural na Escola Multicampi de Ciências Médicas relembra a Pandemia
Enquanto a pandemia de covid-19 devastava o mundo, uma equipe de construção trabalhava silenciosamente para erguer o novo lar da Escola Multicampi de Ciências Médicas (EMCM/UFRN), em Caicó. Agora, esse período histórico e desafiador ganha um tributo permanente: um mural pintado pela artista natalense, radicada em Caicó, Ariell Guerra, localizado na nova sede da escola.
A iniciativa foi do diretor da EMCM, George Dantas, com o objetivo de homenagear todos aqueles que não pararam durante a emergência de saúde global. “A pandemia de Covid-19 nos atravessou de forma profunda — deixou marcas, cicatrizes e um luto que ainda habita muitas de nossas lembranças. Aqui na EMCM, escolhemos não silenciar estas memórias, mas ressignificá-las”, afirma George.

Mural foi pintado em maio – Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN
Segundo o diretor, o mural funciona como uma tatuagem impressa no “corpo” da Instituição, para lembrar que esse tempo existiu, transformou e precisa ser narrado e sentido. “Que este espaço não seja apenas de contemplação, mas de memória ativa — uma lembrança permanente de um tempo difícil, das perdas que sofremos, das aprendizagens que conquistamos e da potência da arte como forma de cura e resistência.”
A obra de Ariell Guerra é rica em simbolismo. Desenvolvida a partir dos relatos de quem participou da história da construção da nova sede, o mural retrata figuras marcantes do período pandêmico. A base da pintura representa a ciência, que abre caminhos — e é nela que surge Jaqueline Goes, cientista responsável pelo primeiro sequenciamento genético do novo coronavírus no Brasil. Também ganham destaque os profissionais da saúde, os trabalhadores dos serviços essenciais e os próprios operários da construção civil, cuja atuação permitiu a continuidade dos projetos mesmo diante da crise sanitária.

Para Ariell, a arte é para ser subjetiva, para que cada um assimile de seu jeito – Foto: Cícero Oliveira – Agecom/UFRN
“O coração do mural está nesse movimento circular, onde cada personagem se conecta com o outro. Constroi-se a base, dela a ciência mostra os caminhos. Nesta obra, uma homenagem aos construtores que não pararam, à ciência, representada por Jaqueline Goes, aos trabalhadores dos serviços essenciais, aos profissionais da saúde. E um tributo de quem ficou àqueles que, infelizmente, partiram”, explica Ariell.
No centro da arte, uma figura de cabelos brancos representa os que perderam a vida. A seu lado, uma criança oferece uma flor — símbolo da nova geração e de quem sobreviveu. Em outra ponta do mural, um círculo de pessoas representa a população que permaneceu em casa, com a internet como único elo de comunicação. A primeira turma a se formar no novo prédio também está retratada.

Os personagens retratados por Ariell não têm feições no rosto, permitindo que o observador escolha por si só quem é a pessoa que quer ver no mural – Foto: Adrian Matheus
“A pandemia foi um movimento encadeado de ajuda, de colaboração em que as pessoas que lutavam de frente recebiam ajuda do pessoal que estava em casa”, conta Ariell. Segundo a artista, a obra é um memorial do que foi vivido. “Somos uma sociedade que precisou se reinventar: transformamos costumes, rotinas, o modo de viver. Nos adaptamos com uma consciência maior de que nada é concreto, de que a estabilidade é uma ilusão, e é na instabilidade que nos equilibramos, estamos constantemente entre um movimento e outro, em novos ciclos. E ao longo desse caminho, a ciência sempre será luz”, comenta.
A muralista nasceu em Natal, mas se considera caicoense, cidade onde passou a infância. “Como artista, eu trabalho com sentimento”, afirma. Ao ser convidada por George, aceitou de imediato — o mural é o primeiro que pinta na cidade seridoense. Parte da obra foi realizada com a participação de pessoas ligadas à história da EMCM, que deram pinceladas na parede.
A Escola Multicampi de Ciências Médicas foi fundada em 2014 e, até recentemente, funcionava em outro prédio na cidade. Durante a pandemia, vivenciou momentos marcantes, como a colação de grau das três primeiras turmas e os desafios do ensino remoto. A migração oficial para o novo edifício, próximo ao campus do Centro de Ensino Superior do Seridó (Ceres/UFRN), ocorreu em 2024, após anos de obras em um período de incertezas. Hoje, a arte instalada no novo espaço cumpre o papel de eternizar a memória coletiva de um tempo de dor, superação e solidariedade.
Fonte: Agecom/UFRN; Texto: Paiva Rebouças, Karen Oliveira e Cícero Oliveir; Edição: Paiva Rebouças; Fotografias: Cícero Oliveira.